A autoria é anônima.
Mas quem já passou por isso nota a verossimilhança.
MANUAL DO 1º DIA DO DELEGADO NO DECAP
06:30 = Você acorda bem cedo para não se atrasar para o plantão, distante
20 quilômetros da sua casa, mas mesmo assim acorda feliz para assumir seu
1º plantão como Delegado de Polícia no Estado de São Paulo.
06:30 = Você veste seu melhor terno, que você comprou em 12 prestações
quando iniciou a Academia de Polícia, pois, embora tenha prestado um
concurso tão difícil e disputado como qualquer outro concurso jurídico e
no Estado mais rico do país, recebe um salário aviltante que não lhe
permite nem mesmo comprar um terno à vista, vestimenta essa que o governo
e a administração superior exigem que você traje, mas não lhe fornecem nem
lhe pagam nenhum centavo a mais para essa finalidade.
06:45 = Você está indo tomar o seu café, mas lembra do trânsito caótico de
São Paulo e dos 20 quilômetros que separam sua casa do plantão e resolve
sair sem tomar café para não chegar atrasado logo no seu primeiro dia de
trabalho.
06:50 = Você entra no seu carro e percebe que o tanque está na reserva.
07:00 = Sai para o trabalho e para no primeiro posto para abastecer o
carro. Lá se vão 70 reais para que você possa chegar à delegacia, dinheiro
esse que sai do seu salário, pois o Estado não lhe dá auxílio transporte.
08:00 = Após ter demorado mais uma hora no trânsito, desde que você saiu
de casa, finalmente você chega na delegacia e ingressa no saguão do
plantão para iniciar seu primeiro dia de trabalho. Ali você se depara com
o escrivão da noite que, sem falar nem bom dia ou mesmo buscar saber quem
você é, já lhe olha feio e diz que “BO é só com a próxima equipe” e que
mesmo assim vai demorar porque já “tem um flagrante da noite pendente”.
Você lhe diz bom dia, se apresenta como o novo delegado e pergunta pelo
colega (delegado) da noite. O escrivão, meio sem graça por ter lhe
confundido com uma parte, aponta a sala do delegado e diz que ele está lá
ainda.
08:05 = Você entra na sala do delegado da noite e, para sua surpresa, se
depara com um senhor de quase sessenta anos, que, embora tenha 25 anos de
polícia, ainda está na 2ª classe e trabalhando no plantão, igualzinho a
você que acabou de ingressar na carreira. Você se impressiona com idade do
colega e pelo fato dele ainda trabalhar no plantão e tem a primeira
decepção ao perceber que dali a 25 anos você poderá estar velhinho e na
mesma situação daquele colega, perdendo noites de sono e sua saúde no
plantão, sendo certo que você pensava na Academia que depois de 25 anos de
carreira você seria no mínimo titular de delegacia ou seccional. Você
cumprimenta o colega da noite e vê que ele está com a aparência péssima,
cara de cansado, esgotado, como se tivesse terminado de correr a São
Silvestre, mas mesmo assim ele lhe dá as boas vindas e lhe mostra as
dependências da delegacia.
08:20 = Depois de se despedir do colega, você retorna ao plantão e um
investigador da sua equipe se apresenta a você. O investigador é meio
esquisito, está com a barba por fazer, veste um camisão florido amarelo
(estilo havaiano), calça de sarja marrom, meio anos setenta, e um par de
tênis nas cores azul e vermelho. Você estranha a aparência do policial,
mas fica quieto.
08:23 = Você pergunta ao investigador pelo escrivão, pois percebe que já
existe algumas pessoas esperando atendimento, e ele diz que o escrivão
ainda não chegou.
08:30 = Você começa sozinho a fazer a triagem das ocorrências e vai se
inteirar do flagrante que estava pendente com os pms, que reclamam que
estão ali desde às 05:30 com um indivíduo detido por tráfico e dizem que
nem fora feita ainda a constatação do entorpecente. Você pede para os pms
esperar o escrivão do dia, pois é seu 1º plantão e nem possui senha para
acessar o RDO para adiantar a constatação.
08:45 = Chega o escrivão da sua equipe, como se nada tivesse acontecido,
se apresenta para você e diz que vai até o “Ceará” tomar um café. Você
descobre com o tira que “Ceará” é o nome do dono do bar que fica do outro
lado da delegacia.
09:10 = Você percebe que o escrivão ainda não retornou do café ainda e
resolve ir até o “Ceará” para chamá-lo. Ali você se depara com o seu
escrivão e seu investigador conversando de forma descontraída, como se
nada tivessem para fazer. Diante disso, você determina que os dois voltem
para a delegacia imediatamente e já começa a construir sua fama de “zica”.
09:30 = O escrivão termina de fazer a requisição de constatação do
entorpecente do flagrante que chegou às 05h30 da noite anterior e vem lhe
perguntar quem vai levar a droga no IC. Você aponta para o investigador,
mas ele diz que não pode sair com a viatura porque seu parceiro ainda não
chegou. O PM, que estava ouvindo a conversa, se oferece para levar a
constatação e você percebe que os PMs estão mais interessados em lhe
ajudar do que seus próprios policiais.
09:40 = Os PMs saem para levar a constatação, enquanto seu investigador
pega um jornal para ler, se senta em um sofá do plantão e começa a
folheá-lo. Várias vítimas que estão esperando atendimento ficam olhando
indignadas o investigador lendo jornal, sem atendê-las.
09:45 = O escrivão começa a registrar o primeiro BO do dia, enquanto o
investigador continua a ler o seu jornal diante de todos que aguardam
atendimento.
10:00 = Enfim, você consegue entrar na sua sala, para arrumar suas coisas.
Retira seus livros jurídicos e códigos da sua pasta (comprados na Saraiva
no cartão de crédito) e quando consegue se sentar pela primeira vez no
dia, o escrivão lhe chama.
10:15 = O Escrivão lhe diz que outra guarnição da PM está apresentando uma
ocorrência de homicídio. Você olha para o lado e o vê que o investigador
continua lendo seu jornal calmamente, sem a companhia do seu parceiro, que
ainda não chegou para trabalhar.
10:20 = Você vai conversar com os PMs e eles dizem que foram acionado pelo
COPOM e ao chegaram no local socorreram a vítima ainda com vida ao PS, com
cinco disparos de arma de fogo na cabeça. Você estranha como alguém pode
sobreviver a cinco disparos na cabeça e manda o investigador, que ainda
lia jornal, pegar a viatura para irem ao local e ao PS.
10:40 = O investigador lhe diz que a viatura está sem combustível e você
pergunta porque ele não foi abastecê-la no início do plantão. Ele diz que
a função abastece a viatura é do Peixoto (o outro investigador que ainda
não chegou). O PM se oferece para levá-lo ao local de homicídio na viatura
deles e você, para não atrasar ainda mais o plantão, resolver ir para o
local de homicídio na companhia da PM. Seu investigador volta a ler o
jornal.
11:30 = Depois de ter comparecido ao local de homicídio e ao pronto
socorro, você retorna ao plantão e manda o escrivão requisitar perícia
para o local. O investigador Cidão não estava mais lendo o jornal, mas da
porta da delegacia percebe que ele está no bar do Ceará bebendo alguma
coisa que você acredita ser um refrigerante.
11:45 = O plantão já está fervendo de ocorrências. Uma pessoa que esperava
desde às 09:00 para registrar um roubo de auto é finalmente atendida pelo
escriba. Após verificar que o roubo ocorreu na área do outro distrito, ele
tentar chutar a ocorrência para lá. Você percebe o “chute” e determina ao
escrivão que registre o roubo, encaminhando o BO para a delegacia da área
por ofício. O escrivão registra o BO contrariado. A vítima lhe agradece.
Sua fama de “zica” é reforçada.
12:05 = Finalmente chega o segundo investigador da sua Equipe, o Peixoto.
Você pergunta a ele o motivo do atraso e ele responde que estuda de manhã
e que estava na faculdade. O escrivão olha, dá um sorriso irônico e você
fica sem entender nada. Peixoto começa a folhear o jornal deixado ali pelo
Cidão.
12:15 = Você está em pé, ao lado do escrivão, sem comer nada desde às
06:30 da manhã, e por curiosidade começa a ler o historio do BO que o
escrivão está redigindo. Você se assusta com um número de erros de
português e fala para o escrivão lhe chamar antes de finalizar a
ocorrência, para você corrigir o histórico. Mais uma vez você é tido como
“zica”.
12:20 = Você consegue se sentar pela segunda vez no dia. Já está cansado,
com fome, pois não parou nem um minuto, já foi em local de homicídio, em
pronto socorro e nem teve tempo de tomar um café.
12:25 = Chega em sua sala um escrivão da chefia pedindo para você assinar
um auto de depósito de um caminhão com suspeita de adulteração de chassi.
Você pergunta pelo titular e ele diz que o titular está em férias. Você
pergunta pelo assistente e ele diz que o DP não tem assistente. Você pede
o inquérito para analisar antes de assinar e ele diz que o IP está no
fórum, com pedido de prazo. Você pede então a cópia do IP e ele lhe traz
um amontoado de papéis soltos dentro de uma capa, sem nenhuma organização,
com peças faltando, mas você acaba assinando o auto de depósito, confiando
no escrivão da chefia e também para não se indispor com o titular logo no
seu primeiro dia de serviço. Sem saber, você acabou de arrumar sua
primeira audiência na corregedoria por ter assinado aquele documento.
12:40 = Os PMs do flagrante de tráfico retornam com a constatação do
entorpecente. Você lê o laudo que deu positivo para um decigrama de
cocaína. O escrivão lhe chama para ver o historio do BO de roubo e, de tão
ruim, você é obrigado a refazê-lo completamente.
12:50 = Você manda o escrivão iniciar o flagrante e começa a ouvir os PMs,
que lhe contam como abordaram o traficante de “um decigrama de cocaína”.
Terminada a oitiva dos PMs, você assina o recibo de entrega do preso e
dispensa os milicianos.
13:30 = Você começa a ouvir o traficante e este lhe conta que na realidade
é usuário e que quem lhe prendeu não foram policiais fardados, mas dois
policiais à paisana que chegaram em uma Ipanema verde metálica, quatro
portas, dizendo que eram do Denarc. Você não acredita na versão do
conduzido, pois os PMs estavam em um Corsa Sedan caracterizado e não em
uma Ipanema verde. Minutos depois chegam no plantão outros dois PMs, em
trajes civis, que lhe pedem para fotografar o traficante. Eles dizem que
são do P2 do Batalhão. Quando eles deixam o DP, você percebe que eles
entram em uma Ipanema verde, quatro portal, idêntica àquela descrita pelo
suposto traficante. Você aprende que nem sempre policiais que lhe contam a
verdade e que nem sempre o preso está mentindo.
13:50 = O Escrivão lhe avisa que uma viatura do Tático acabara de chegar
com um outro flagrante, dessa vez de roubo, com três indiciados e cinco
vítimas. Ele aproveita o ensejo para lhe avisar que tem três flagrantes de
plantões anteriores que tinham de ser relatados, dois que desses que
estavam com o prazo para vencer no dia seguinte. Você, já assustado com a
possibilidade desses flagrantes serem relaxados por excesso de prazo,
manda o escrivão lhe trazer os inquéritos e começa a ler o primeiro.
14:00 = O escrivão, após lhe trazer os inquéritos, avisa que está saindo
para almoçar.
14:20 = Você, já com dor de cabeça, sem almoçar e sem ao menos tomar um
café, começa a relatar o primeiro IP que está com o prazo para vencer.
15:10 = Você terminou de relatar o primeiro inquérito e começa a ler o
segundo, quando chega o escrivão, palitando os dentes e lhe perguntando se
o segundo flagrante apresentado pelo Tático seria de furto ou de roubo.
14:30 = Você vai ao plantão, conversa com os PMs, que lhe contam que
surpreenderam os três indiciados, um deles armado, que, com emprego de
grave ameaça, subtraíram dinheiro, cartões e objetos das vítimas e aí você
conclui que obviamente a ocorrência tratava-se de roubo e não de furto.
Você aprende que seu escrivão, que lhe disse ser bacharel em Direito, não
sabia nem mesmo diferenciar um furto de um roubo.
14:45 = O escrivão começa a qualificar as partes do segundo flagrante e
você pergunta pelos tiras. Ele lhe diz que assim que voltou do almoço os
tiras saíram.
14:50 = Enquanto o escrivão qualifica as partes, você resolve ir ao bar do
“Ceará” para comer alguma coisa, pois já está verde de fome e, ao chegar
naquele local, vê o cozinheiro assoando o nariz dentro da cozinha e
resolve comprar apenas uma barra de cereal e um refrigerante, que será a
sua única refeição do dia.
15:00 = Você come sua barra de cereal, toma seu refrigerante e começa a
relatar o segundo inquérito que o escrivão lhe passou. Quando está absorto
com o trabalho, o escrivão aparece e diz que uma vítima queria falar com o
delegado.
15:10 = O escrivão traz aquela vítima à sua sala e o sujeito começa a lhe
contar que foi abduzido por ETs, que lhe implantaram um chip na cabeça e
lhe monitoravam do espaço. Você tentar dispensar aquele sujeito, mas ele
não parava de falar e exigir que fosse registrado um BO sobre aquele fato.
Depois de quase meia hora ouvindo o “13” você percebe que é melhor não
contrariar o louco e, com muito tato, o convence a voltar outro dia, sem
saber que ele iria voltar no plantão noturno e dizer para o delegado da
noite que tinha sido você que havia mandado ele voltar àquele horário. No
próximo plantão, o colega iria lhe olhar meio torto, mas você não iria
saber o porquê.
15:50 = O escrivão lhe diz que já tinha qualificado todo mundo e que
estava lhe esperando para que você lhe ditasse as oitivas.
16:00 = Você começa a ditar a primeira oitiva para o escrivão. O telefone
do plantão toca e ninguém atende. Você pergunta pelos tiras e o escrivão
diz que não sabe onde eles estão. Você mesmo atende o telefone e é o
advogado dos presos querendo saber por telefone o que irá ser feito com
eles. Você, já sem paciência, diz rispidamente ao advogado que se ele
quiser acompanhar o flagrante que se faça presente na delegacia, que não
irá lhe passar nenhuma informação por telefone e desliga na sua cara. Logo
em seguida, você mesmo se dá conta da falta de educação com que tratou o
causídico, algo que você nunca tinha feito antes na sua vida, até porque
bem pouco tempo atrás você também advogava como ele.
16:15 = Sua mulher lhe telefona, toda feliz pelo seu primeiro dia de
serviço, mas você responde que está em meio a um flagrante e desliga na
sua cara. Novamente, você percebe a “¨&*%” que fez, pois sua mulher é
muito sensível e iria ficar chateada com você.
16:30 = Você terminar de ditar a primeira oitiva, mas quando o escrivão
vai imprimi-la ele lhe avisa que o tonner da impressora acabou. Você manda
ele trocar o tonner e ele diz que não tem. Você manda ele ir buscar um na
chefia e o chefe do cartório avisa que o material acabou e que o tira do
expediente não havia ido buscá-lo ainda.
16:45 = Você está em meio de um flagrante, apenas com o escrivão ao seu
lado, com uma fila de pessoas, já de cara feia, à espera de um BO, sem
impressora e começa a se desesperar com a situação. O escrivão lhe avisa
que na rua de cima existe uma loja que recarrega cartuchos e tonners de
impressora e você vai até lá à pé porque seus tiras não voltaram ainda. Lá
se vão mais 80 reais do seu salário para recarregar o tonner da impressora
da delegacia.
17:10 = Seus tiras retornam à delegacia e você pergunta onde eles estavam.
O Peixoto diz que estavam cumprindo uma OS da chefia, mas você vê que ele
está meio “alegrinho” e com o hálito etílico (embriagado mesmo). Você sobe
na chefia e reclama com o chefe dos tiras, que lhe explica que Peixoto é
“meio problemático”, já passou mais de um ano afastado de licença médica e
que não dava para “exigir muito dele” senão ele poderia tirar uma outra
licença e sua equipe ficaria com apenas um investigador. Você retruca, diz
que Peixoto fazia faculdade, tanto que chegou só na hora do almoço e o
chefe dos tiras, com um largo sorriso no rosto, diz que se o Peixoto fazia
faculdade era como “servente de pedreiro”. Você resolve não se alongar,
pois ainda tem quatro pessoas para ouvir no flagrante.
17:30 = Toca o telefone novamente e mais uma vez nenhum dos dois
investigadores estava no plantão para atender. Peixoto estava no bar do
Ceará, tomando a décima pinga do dia, enquanto Cidão (o de camisa florida)
fazia um “QZZ” nos fundos da delegacia, dentro da viatura. Mais uma vez
você teve de atender o telefone e dessa vez era a secretária do Seccional
dizendo que ele queria falar comigo. Você pensa que ele vai lhe perguntar
sobre seu 1º plantão, lhe dar as boas vindas, mas já sente a voz do homem
meio alterada, lhe perguntando sobre um advogado que teria sido maltratado
ao telefone. Você explica ao Seccional que estava no meio de uma oitiva e
que o advogado queria informações sobre o flagrante por telefone, o que
não era possível, pois nem tinha como saber se realmente ele era quem
dizer ser, mas o Seccional diz que o tal advogado era primo da empregada
do Secretário de Segurança Pública e que ele teria recebido um telefonema
do assistente do Titular da Pasta, lhe questionando sobre o atendimento
dado ao advogado e lhe pede para ser mais maleável nessas situações, para
não causar melindres para ele, pois numa dessa ele poderia perder a
cadeira e você seria o culpado. Você toma seu primeiro “presta atenção” na
carreira, logo no 1º plantão.
17:45 = Você continua a ditar as oitivas, já chateado por ter se queimado
com o Seccional logo no primeiro dia, quando novamente liga a sua esposa.
Já de cabeça quente, você grita com ela e pergunta se ela não entendeu que
estava em meio a flagrante e ela desliga o telefone com voz de choro.
18:30 = Finalmente você consegue terminar todas as oitivas do flagrante.
18:35 = Você retornar para a sua sala para terminar de relatar o IP que
havia iniciado e começa a ouvir uma gritaria no plantão e corre para lá
novamente. É outra guarnição da PM, dessa vez, trazendo uma briga de
família, generalizada, com marido que bateu na mulher, mulher que bateu no
marido e na sogra, cunhado que bateu na cunhada porque a cunhada bateu na
sogra. Pergunta pelos tiras que deveriam estar fazendo a triagem dessa
ocorrência e vê Peixoto saindo do bar do Ceará, cambaleando de tão bêbado.
Peixoto entra no plantão gritando com todo mundo, ameaça puxar a arma para
a mulher que apanhou do marido e do cunhado e que agora estava lhe
xingando. Você pega Peixoto pelo braço e manda ele ficar quieto, enquanto
vai atrás de Cidão, que continua dormindo na viatura.
18:50 = Você manda o escrivão ir adiantando essa ocorrência para a Equipe
da noite, qualificando as partes e requisitando IML para todo mundo. Fala
para o Cidão ficar ali por perto e ajudar o escrivão, mas ele diz que não
sabe “mexer com computador”. Diz então para ele pelo menos ficar por perto
para não deixar o povo se pegar novamente na delegacia.
19:10 = Você retorna para sua sala para terminar de relatar o segundo
flagrante, que irá vencer no dia seguinte, e se depara com Peixoto
dormindo no sofá e babando sobre seus livros que custaram uma fortuna. Por
um momento, pensa em expulsá-lo dali, metê-lo no papel, mas, como está
completamente bêbado, prefere deixá-lo ali mesmo, para evitar mais “zica”
no seu plantão.
19:15 = Com Peixoto roncando na sua sala, você continua a relatar o
flagrante, quando entra o escrivão desesperado, dizendo que um dos presos
que estava no corró tentou matar o outro preso, batendo a cabeça desse
contra a grade. Você vai até lá e se depara com o preso desmaiado,
vertendo sangue pela cabeça.
19:20 = Chama Cidão às pressas para levar o preso no pronto-socorro, mas
ele me lembra do “estado” do Peixoto, que não poderia lhe acompanhar. Mais
uma vez quem lhe auxilia nessa situação são os PMs que estão na
ocorrência, que se dispõem a levar o preso até o pronto-socorro. Você
agora já tem certeza, logo no meu primeiro dia de serviço, que
investigador de polícia no plantão e nada é a mesma coisa.
19:35 = Você volta para a sua sala e percebe que o paletó do terno que
havia comprado em 12 vezes estava manchado de sangue daquele preso. O
paletó vai diretamente para o lixo e com ele 400 reais que você tinha
gastado para comprá-lo em 12 prestações (faltavam ainda duas).
20:00 = Ainda relatando o flagrante, chega o colega da noite e lhe
pergunta como está o plantão. Você passa para ele a ocorrência da briga de
família.
20:30 = Finalmente você termina de relatar o flagrante. Os PMs retornam
com o preso do PS com a cabeça toda enfaixada. Só aí você se dá conta que
tem ainda de realizar todos os procedimentos cabíveis em relação àquela
agressão praticada sofrida preso.
23:00 = Você termina seu plantão diurno, com poucas horas para descansar,
pois às 20:00 do dia seguinte você entra no plantão noturno.
23:30 = Você está voltando para casa, com as pernas doendo de andar de um
lado para outro, com a cabeça estourando de dor de cabeça, sem comer
direito, sem saber se terá o que comer em casa, em razão do adiantado da
hora. Resolver para em uma lanchonete para comer um misto quente, mas
percebe que gastou todo o seu dinheiro com o tonner da impressora do
plantão.
23:40 = Você finalmente chega em casa. Sua mulher já está dormindo, seus
filhos já estão dormindo e a única coisa que você tem a fazer é tomar um
banho e ir dormir também, pois no dia seguinte você já sabe o que lhe
aguarda. Você pensa em pedir exoneração, em voltar a advogar, mas sua
vocação fala mais alto e você continua, pois acredita que um dia as coisas
irão melhorar e que o trabalho imprescindível do delegado de polícia será
enfim reconhecido em São Paulo pelos governantes.
abraço.
O Objetivo deste Blog é Alertá-lo Sobre os seus Direitos com informações mínimas que quando sabemos podemos evitar um problemão! Se todas as pessoas tivessem uma pequena noção dos seus direitos, o Judiciário estaria com menos casos para resolver. Logo, a celeridade processual seria mais eficaz, visto que não estaríamos movendo o judiciário para questões ínfimas, porém com todo seu direito! SEJA BEM VINDO Célio Silva
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Lendo todo conteúdo acima, voltei no tempo e recordei a vida do meu marido como delegado...tudo aqui descrito é real,acompanhei a rotina estressante,angustiante pela falta de estrutura fisica e tudo mais relatado pelo delegado no seu primeiro dia de trabalho.
ResponderExcluirInfelizmente já faleceu(novo, 59 anos).
Estou aqui tentando formar meus filhos com o mísero salário herdado por ele.
Meu marido sempre me dizia que embora amasse ser policial,tinha se arrependido de ter permanecido como delegado,deveria ter prestado outro concurso que pagasse um salário digno e compatível com o cargo.
Sabe qual foi a herança deixada por ele?
Um corola velho.
Acreditava que um dia melhoraria,morreu e td continua igual.
Acredito que falta na polícia Civil homens de coragem.
Abraço
Boa !!!!, Seria cômico, se não fosse trágico. Tenho 29 anos e cinco meses de Policia Civil, sou "Tira", como descrito pejorativamente no texto acima. Tendencioso, distorcido e escrito por algum frustrado, que talvez, nem Delegado seja.
ResponderExcluirÉ bom saber que minha imagem será relacionada a de relapsos e bêbados. Só posso dizer, "Nossa, ainda bem que existem delegados,pois o resto não vale nada." E este blog, qual sua opinião sobre minha classe profissional?
Trabalhei muito nestes quase 30 anos, fiz vaquinha para consertar viatura, impressora, fax, até lâmpada para o plantão, e é assim que me apresentam á população. Devia ter feito tudo que foi descrito acima, e não fiz. Mas sou jogado na vala comum. Delegado bebum não existe, né ? Ah, é lenda urbana... Boa !!!!! Um Blog é coisa séria, gente. Vou comunicar nosso sindicato sobre esta preciosidade "Internética". Tenham um bom dia.
ResponderExcluire voces dois, não fizeram mais do que a obrigação, na policia é assim, te vira...
ResponderExcluirVai esccrever poesias, a realidade é ampla, não uma fagulha apontada por incompetentes , generalizadores e acima de tudo otários.
ResponderExcluirFICO FELIZ POR SER UM "TIRA" E MAIS UMA VEZ NOTAR QUE O TEXTO PEJORATIVO FAZ MENÇÃO A NOSSA CAPACIDADE DE LEVAR DELEGADO "NA CONVERSA" AFINAL ELES ESTUDARAM E SÃO AUTORIDADES. RSSSSS. SABEM TUDO INCLUSIVE ADMINISTRAR. "TIRAS" CONTINUEM A FAZER DESSES "NOTÁVEIS" DELEGADOS DE POLICIA UNS OTÁRIOS NAS MÃOS DAQUELES QUE NÃO SERVEM PARA NADA.
ResponderExcluirNem todo mundo é da forma como está descrito. Já assumi plantão com flagrante com 3 indiciados e o Delegado de Polícia somente assumiu o plantão às 21h e bêbado, tive que tomar todas as providências por minha conta. Aliás, grande parte dos Escrivães atuam com profissionalismo, eficiência e dedicação, há a parte podre que generalizam os demais. Da mesma forma que trabalhei com Delegados bêbados e que saiam durante o plantão com mulheres, trabalhei também com Delegados competentes e dedicados na carreira. Da mesma forma há ótimos Escrivães, Investigadores de Polícia, Agentes Policiais e Carcereiros. Se somos motivos de chacota para os próprios colegas, como podemos nos unir para melhorarmos nossas condições precárias de trabalho e com parcos vencimentos?!
ResponderExcluirLÓGICO O DIRETOR DO DECAP,NÃO RECLAMA DE SALÁRIO,POIS NÃO PRECISA O RECOLHE DO DECAP,ATINGE QUASE R$.1.000.000,00 ( HUM MILHÃO DE REAIS ) AO Mẽs.
ResponderExcluirDR.Paschoal,sabe>>>>>
Conversa fiada, est'oria pra boi dormir, para valorizar os Delegados. Quantas Delegacias sao tocadas por Escrivaes e Investigadores ? A naioria. Delegado nem aparece na Delpol o Escriba (escravao) deixa tudo pronto e ainda tem que levar o expediente onde eles estiverem, so pra assinarem. Quem 'e tira ou escriba sabe que isso 'e 171 de Delpol querendo valorizar a carreira. Tanto 'e que o autor 'e anonimo, sou tira e sei que 'e tudo mentira...
ResponderExcluir